segunda-feira, 22 de julho de 2013

Treino PL43 - Aquela que remove montanhas

Por que correr os 37 km, em plena e movimentada Via Dutra, entre as cidades de Taubaté e Aparecida? E, pior, pelo terceiro ano consecutivo... Não há motivo. Pelo menos, não um único motivo. Cada um dos guerreiros que surgiram naquela manhã em frente ao Horto Municipal certamente tinha o seu. Poderia estar ligado a questões espirituais. Ou não. Religião, crença, cada um tem a sua e todas merecem respeito, inclusive se for nenhuma. O esporte muitas vezes ensina, aliás, o convívio pacífico e harmonioso de pessoas totalmente diferentes entre si.


Convivência
Foi fantástico e emocionante ver, mais uma vez, a realização do meu velho sonho peregrino. Da ideia que já tinha havia muitos anos, talvez desde criança. Que tomou forma de treino de corrida pela primeira vez em 2011, por conta do apoio de amigos que acreditaram nela; e que vem crescendo ano a ano desde então, com cada vez mais participantes e melhor estrutura para atendê-los.


Recordar é viver. 2011 e 2012

Mas ninguém faz nada sozinho. Se havia tanta coisa boa ali, camisetas, medalhas, água, alimentos, carros e bicicletas de apoio, etc., à nossa disposição, isso tudo era o resultado de um árduo trabalho conjunto, de muita gente que sabe que as coisas só acontecem quando pessoas arregaçam as mangas e as fazem. Citar nomes individualmente é correr o risco de ser injusto e esquecer algum importante. Mas todos que tanto me ajudaram na preparação da terceira edição desse treino sabem bem da imensa gratidão que tenho por eles.

Fé e união
Talvez por coincidir com a chegada, para a Jornada Mundial da Juventude, do Papa Francisco ao Brasil, e mais particularmente, ao nosso mesmo destino desta manhã de domingo (pela primeira vez; nos anos anteriores, havíamos corrido aos sábados), a peregrinação corredora tenha chamado a atenção da imprensa. Incorrigível acanhamento à parte, foi uma experiência interessante contar um pouco da história e motivação do evento à equipe da TV Vanguarda, afiliada local da Rede Globo.

Perdoem o sotaque caipira...
Foi tudo muito corrido e, inevitavelmente, houve mais uma vez algum atraso para a largada. Mas conseguimos fazer com que ele não passasse de vinte minutinhos. Com a concentração propositalmente marcada para um pouco mais cedo, a partir das 6h30, até que não foi tanto prejuízo assim. O clima matinal ainda era agradável e a estrada, em reformas no trecho, ficou bonita de ver com o multicolorido dos atletas e seus veículos de apoio nela, depois do breve deslocamento a pé do ponto de encontro até o do início do desafio.



 
O início da jornada
Como de costume, os blocos de ritmo se formaram. Atletas mais ligeiros, dispostos a fazer do treino quase como se uma competição fosse, dispararam à frente. Eu me juntei à velha e boa turma do fundão. Toninho disse que era coincidência estarmos juntos novamente, os mesmos do ano anterior; e eu respondi que não, era pangarezice mesmo. Nada como ter bons e leais companheiros e a oportunidade de correr sempre ao lado deles.



A elite Z novamente reunida
Repetiríamos a mesma estratégia de sucesso das primeiras edições. A cada cinco quilômetros, aproximadamente, priorizando mais aspectos de segurança que de localização geográfica, nossa brava equipe de apoio estava lá. Distribuindo água, isotônico, frutas, barrinhas de cereais e outros mimos, mas, principalmente, valiosas palavras de incentivo. Dando aquela força, tornando tudo menos difícil para nós, corredores. Além da presença valorosa da turma do Pedal 100 Juízo, que veio desde São José e nos acompanharia em todo o trajeto até Aparecida. Dariam todos, mais uma vez, um show de solidariedade e amor ao próximo. Não há palavras para agradecer à minha esposa, aos meus tios e padrinhos e a cada uma das famílias que, naquela manhã, tornar-se-iam uma só, a grande família da corrida.





Sem eles, isso tudo não seria possível
Desafios, como sempre, não faltariam neste longo caminho. O sol ficaria brincando de se esconder durante quase toda a manhã; mas, quando finalmente apareceu de vez, foi para torturar geral. As subidas e descidas eram muitas, a começar pela longa rampa acima na divisa entre as cidades de Taubaté e Pindamonhangaba. A maior parte dos trechos tinha acostamento de bom tamanho e permitia correr com tranquilidade e segurança. Mas havia também alguns onde o jeito era subir para o canteiro gramado, nem sempre com piso lá muito regular. Contudo, o grande movimento esperado na rodovia até que não se mostrou tão complicado assim. Mais uma vez, com a proteção e bênçãos pedidas por e para todos, tudo seria calmo e sem maiores sustos. Tivemos até, pela primeira vez, o apoio extraoficial da Polícia Rodoviária e veículos de apoio da concessionária que administra a rodovia. Não é, definitivamente, mais perigoso que correr nas ruas das cidades, em meio ao trânsito caótico delas. Basta estar lá pessoalmente para constatar isso. Houve, infelizmente, preconceito e desinformação que talvez tenha afastado alguns participantes em potencial. Mas a gente releva...




Um caminho difícil, mas também seguro

De minha parte, havia a consciência de que, por maior que fosse a vontade de correr de ponta a ponta por todo o percurso, o que estava acontecendo ali era um treino e não uma competição de corrida, na qual estivesse buscando uma marca pessoal. E eu corri o tempo todo focado nisso. Se o calor forte, a exaustão ou qualquer ameaça de lesão viesse e atrapalhasse, eu não pensaria duas vezes em tomar a decisão de caminhar ou até interromper a minha participação. O mormaço e a sensação de abafamento decorrente dele logo transformariam o começo agradável do caminho em algo longe da zona de conforto, mas, até aí, ainda suportável. O problema maior foi o mesmo ocorrido na última edição da Maratona do Rio: ameaças de cãibras nas panturrilhas. Nas primeiras vezes, achei até engraçado. Mas logo a "piada", repetida muitas vezes, foi perdendo a graça.

Cara, isso dói...
Lá pela quinta ou sexta vez que veio o choque, já também bastante cansado e perdendo contato com os companheiros de pelotão, resolvi que não iria correr todo o percurso. No mesmo ponto de desistência da edição de 2012, aos vinte e oito quilômetros, parei, troquei de farda e peguei uma carona no carro dos meus tios. Mas não estava disposto a capitular por completo, ainda tinha um pouquinho de lenha para queimar. Pedi então para que o padrinho me deixasse no viaduto do km 71, a 3,6 km da chegada. E, sem medo de travar tudo, reiniciei minha jornada, para ter ao menos a sensação de ver a Basílica surgir no horizonte sem um vidro de carro como anteparo. Fazendo, no penúltimo quilômetro, depois da forte subida, o melhor pace do dia.


Ok, ok, podem cornetar, eu cortei caminho. Mas cheguei lá!
Somando tudo, seriam 31,6 km em pouco mais de 3h30min, o que estava ao meu alcance no dia e condições. Menos que os trinta e sete completos que fizeram muitos dos valentes amigos que recebi e tive a honra de condecorar, entregando suas medalhas de participação; mas mais que outros tantos que correram metade do caminho em revezamento ou distâncias livres, à escolha. Importante mesmo era a presença e participação de todos. Com cada um trazendo algo, o lanche comunitário pós-treino virou um verdadeiro banquete, cada coisa mais deliciosa que a outra. Mais fotos, muitas fotos, como sempre. Muita alegria, muitos abraços, muitos agradecimentos e palavras de carinho e reconhecimento que me deixaram com olhos marejados... E a alma leve, com sensação de missão cumprida, de ter podido proporcionar, mais uma vez, a queridos amigos e companheiros de esporte algo verdadeiramente especial.

 
Celebrando a conquista

Ainda que não tenha sido um treino perfeito; e que chegue até a preocupar o fato de mais uma vez não ter rendido o que podia (além da ameaça de cãibra), foi um dia marcante e inesquecível. Para mim e para todos que estiveram comigo neste caminho. Pessoas me perguntando se falta muito para a quarta edição, em 2014, são a prova cabal disso. Que falta, falta, minha gente... Mas que possamos estar juntos, reunindo cada vez mais amigos, em muitas próximas edições desse e de outros bons desafios. O meu muito obrigado a todos que estiveram presentes, torceram, participaram de alguma maneira do 3º Treino da Fé, como apelidaram o evento. Ela não costuma falhar...


Matéria sobre o treino no Jornal Link Vanguarda de 22/07/2013:

Vídeos:



26 comentários:

  1. Parabéns Fábio, pela iniciativa, perseverança e realização de tão significativo "Treino", para todos da família 100 Juízo.
    No primeiro ano eu não estava pronto para distância, ano passado estava pós-cirurgia, e esse ano, contusão e compromisso familiar me impediram de estar presente. Mas ano que vem, se Deus e a N.Sra permitir, estaremos juntos.
    Grande abraço!

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    1. Valeu, grande Silvio. Infelizmente não pudemos contar mais uma vez com a sua presença, mas, como você mesmo mencionou lá no Facebook, algo criado por você cruzou muitas vezes essa linha de chegada. E, repito, seu nome foi muito mencionado, merecidamente, neste domingo. Só posso te agradecer, mais uma vez e muito, por ser um dos maiores responsáveis pelo sucesso desse treino. Que possamos estar juntos em muitas outras edições. Bom finalzinho de recuperação aí.

      Abração!

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  2. Parabéns Fábio Namiuti! Creio que adicionando apenas 5 km de percurso na parte interna da cidade de Taubaté poderia surgir com certeza uma Maratona da Fé na distância de 42 km, outra dica é tentar descobrir um caminho alternativo de Taubaté para Aparecida, mesmo que for em estrada de terra, para poder aumentar o número de corredores e claro também a segurança em relação aos veículos que trafegam em alta velocidade pela Dutra, fica aí minha sugestão. Um grande abraço!!!

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    1. É uma sugestão que recebemos desde a primeira edição, Pinguim. Na verdade, o treino foi criado originalmente (foi realizado em maio na primeira vez) para servir como um longão "master" antes da Maratona de SP, na qual muitos iriam estrear em 2011. Daí ter menos de 42 km. Puxar 5 km para trás na Dutra nos colocaria num ponto meio ruim da rodovia para a concentração e largada. Mas, para 2014, já temos algumas outras ideias que devem aumentar bem a distância e transformar o treinão logo numa ultra de revezamento.

      Quanto ao caminho alternativo, já conversamos sobre o assunto no Facebook, e ele realmente existe, mas é mais perigoso que a Dutra, na minha opinião. Concordo que um percurso no estilo Caminho de Santiago (um dos meus sonhos, a propósito), sem tráfego de veículos ou quase, seria o ideal, mas isso dependeria de um planejamento muito maior e de uma pesquisa apurada sobre essas possibilidades.

      Abraços!

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    2. Legal Fábio! Agradeço sua atenção e resposta ao meu comentário, estou feliz em saber que você e seus amigos estão colaborando com o surgimento de Maratonas e Ultramaratonas em toda região do Vale do Paraíba, espero que seja de caminho natural como estradas de terra batida, mas se não for não tem problema, o importante é chegar a ter, e claro com toda a segurança para todos os participantes. Um grande abraço!!! :)

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    3. Valeu, Pinguim! Eu é que agradeço. Contamos com sua presença para correr com a gente e registrar, em belas imagens de seu fantástico trabalho, um pouco dessa história que estamos fazendo.

      Abração!

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  3. Respostas
    1. Prepare-se e venha mesmo, Maiena. Será muito bem-vinda.

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  4. Valeu Fábio!! Você traduziu em palavras o que foi o nosso 3° Treino da Fé! Eu particularmente te agradeço muito pela oportunidade de estar e de participar com vocês e tenha certeza que enquanto eu puder estarei presente nesse evento.
    Já estou pensando no ano que vem ir até ai em Taubaté para largar com vcs.Talvez não consiga completar todo percurso mas farei o possível para fazer o melhor !! Desculpa não ter me despedido de você.Um grande abraço a vc, a todos que participaram e a toda família 100 Juízo. Valeuuuuuuu !!

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    1. Muito obrigado, Passinho. Acho que dessa vez falei mais de bastidores que da execução do treino em si, mas espero ter contado um pouco do que é essa história fascinante, que temos a satisfação de viver todos os anos. Obrigado mais uma vez por participar. E que na próxima vez, você possa estar conosco desde o início. Para correr a distância que for, isso é o de menos. O que vale mesmo é a sua presença. Abração!

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  5. Fábio, estava ansiosa para ler o relato sobre o treino !
    Não sei nem o que te dizer, pois é tudo tão abstratamente Lindo, que eu não tenho a capacidade de traduzir em palavras o sentimento que esse "Movimento pela Paz", pela amizade, pelo amor ao esporte, a corrida, a comunhão em si de uns para com os outros, junto a natureza, e urbanidade que a Via Dutra proporciona. Você realmente está de parabéns por tudo Fábio Namiuti, eu me orgulho Mesmo de fazer parte de uma Equipe que tem a consciência que vocês todos da Equipe tem sobre o Mundo Lindo que é o da Corrida. Todos que estiveram ali, com certezas estavam totalmente presentes, plenos, inteiros, dispostos, e é isso que nos faz sentirmos vivos, sendo humanos, sendo filhos e sentindo o Pai pelo meio do caminho, pelo caminho inteiro.
    Parabéns Fábio, pois até para quem não participou, a emoção é sentida, o desejo torna-se ainda mais profundo.
    Parabéns a você e a toda Equipe e agregados que se uniram em prol de um bem maior.
    E Obrigada, pois são essas "coisas maravilhosas" que me inspiram a treinar ainda mais concentradamente no meu dia a dia, para eu me tornar uma corredora melhor, e estar apta e tranquila para participar da quarta edição do Treino da Fé. Parabéns pelo poder do "algo mais" e da alegria!!!

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    1. Eu te agradeço demais pelas palavras e por captar tão bem, mesmo sem estar presente, o espírito disso tudo, Vanda.

      Bem que tentamos te convencer a estar presente... Pena que não conseguimos. Ali tinha gente que estava apta para muitas distâncias diferentes. Ninguém precisa e nem deve fazer 37 km se não estiver preparado para isso no momento. Esperamos, na próxima vez, ser mais persuasivos.

      Você é uma das nossas. A Meia Maratona do Bar do Mané (entre outras) provou isso.

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  6. E olha Parabéns também porque a cada dia você escreve melhor. Parabéns MESMO!!!

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  7. Bela Corrida Fábio.
    E com uma equipe de apoio assim tudo fica mais divertido!

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    1. Obrigado, Luiz. Sem o apoio, nessa boa encrenca, não somos nada...

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  8. Pode escrever ai parceiro.
    Em 2014 este evento estará em minha agenda.
    Assim que você tiver confirmada a data me informe que eu já farei as reservas e a minha programação.
    Parabéns à todos que participaram correndo ou dando apoio.
    Até o dia 04/08.

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    1. Está escrito! E fico muito contente por escrever. Faltou você nessa parada aí...

      Ainda não tem data marcada pra 2014, mas deve ser mais ou menos nessa mesma época. Assim que tiver, eu aviso.

      Abraço e até dia 4 na Terra Simão.

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  9. Fábio,sempre excelente ler seus textos...E esse treino em especial eu assumo o compromisso e mais ainda a imensa vontade de fazê-lo com vocês ano que vem.
    Que NSA te ilumine e guie seus passos meu amigo corredor.

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    1. Excelente te receber por aqui também, FFF... No próximo Treinão da Fé, então, nem se fala. Ficaremos todos felizes e honrados.

      Amém! Que ela ilumine e guie a todos nós, sempre.

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  10. cara meus parabéns a todos costa ria de ir na proxima ( sneeep1@hotmail.com)

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    1. Valeu! Se puder, apareça sim. Divulgamos os eventos na página da Equipe 100 Juízo no Facebook:
      https://www.facebook.com/groups/equipe100juizo/

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  11. Espero um dia poder participar desse treinão. Com certeza no bloco Z. Parabéns à Polícia Rodoviária e outros q apoiaram.

    A segurança é algo que eu teria q estudar antes de participar, mas com certeza, existe muita corrida oficial em cidade por aí nos deixa disputar a pista com carretas.

    Qto á "desistência", ano q vem Vc "vinga", rsss.

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    1. Seria muito bem-vindo, Daniel, no bloco de qualquer letra.

      Achei legal a participação da Polícia Rodoviária, que pegou até o telefone do "organizador" (no caso, eu mesmo) e ficou de ligar pra dar orientações sobre o próximo treino. Estou esperando.

      A cada ano que passa, acho esse treino mais seguro que os outros que faço sozinho, à noite, no meio do trânsito.

      Um dia eu ainda corro tudo.

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  12. Respostas
    1. Já está convidada. Em 2014, deve acontecer no mês de maio.

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