segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Treinos 24 e 25 - Essa é a minha praia

A última vez em que tirei férias, mas férias de verdade mesmo, daquelas com trinta dias e din-din garantido na conta, foi no jurássico ano de 1993. Desde então, trabalhando por conta própria, nunca mais pude me dar ao luxo de ficar tanto tempo de papo para o ar. Mais um motivo para aproveitar ainda mais os momentos de lazer. Mesmo nessa época de vacas esqueléticas de tão magras.

Um dia, Mimosa, um dia...
Quem não pode tirar o mês todo de folga, há de se contentar com uma semana... Vem sendo assim há alguns anos. A semana de saco cheio entre Natal e réveillon, ou a habitualmente parada primeira semana do ano, costumam ser as minhas "microférias" (estão mais para "nanoférias"). Não é o ideal, mas já faz um bem danado. A paz de passar sete dias sem ouvir a tranqueira do celular tocando, não tem $$$ que pague.

Me too!
Mas essa virada de ano foi atípica. Nem esses míseros dias deu para folgar. 2013 já começou pauleira, tanto em termos de trabalho quanto em treinos. Muito o que fazer, para que as resoluções de ano novo não fossem páginas viradas antes mesmo do final de janeiro, como as de quase todo mundo. O que restou foi a possibilidade de passar o final de semana na praia, um depois do carnaval, quando o litoral costuma estar um pouco menos muvucado. Achei perfeito.

Ano novo?
No final da tarde de sexta, enforcando o treino de musculação previsto (um dia só, pode!), peguei a família e nos mandamos para a Tabatinga. Por mais que eu frequente a última praia ao norte de Caraguatatuba, já na divisa com Ubatuba, há um quarto de século, não me canso dela nunca. Nem das suas vizinhanças. O litoral norte paulista, nossa côte d'azur (os preços lembram mesmo!), é cheio de preciosidades. Basta pegar o carro e ter coragem de encarar estradas absurdamente esburacadas, para chegar a verdadeiros tesouros escondidos, cenários de cartão postal, playgrounds para crianças de todas as idades. Eduardo, oito anos, adorou a praia da Caçandoca. Seus pais, quarentões, também.

Sábado

E foi nela, a Tabatinga, o primeiro dos dois treinos litorâneos do final de semana. Igual ao que já fiz várias vezes, em outras temporadas por lá; mas totalmente diferente do que estou habituado e, por conta disso, sempre divertido. Com a tal tendência minimalista (brinquei outro dia dizendo que estou nela, pago o mínimo que posso pelos meus tênis), correr descalço ou quase isso, está virando moda. Pesadão como sou, evito, restrinjo a curtas distâncias. Mas não iria calçado para esse passeio na praia.

Uma luxuosa pista de treino
De correr na areia, posso falar do alto da experiência de quem já fez toda uma maratona nela, a das Praias de 2009 em Bertioga. Não morro de amores. Sobretudo quando a areia fica fofa, afunda os pés e torna o ato de correr, que já faço com certa dificuldade, algo ainda mais complicado. Mas é um belíssimo treino de fortalecimento muscular. Tivesse "caixas de areia" do tipo mais perto de casa, certamente praticaria bastante. As panturrilhas chiam, o fôlego raleia, mas o condicionamento como um todo agradece.

Passos difíceis
Mas, afora esse grau de dificuldade extra do piso, correr à beira-mar é sempre uma delícia. Para quem está acostumado a ter como cenário de treinos um monte de avenidas, carros, prédios e outdoors, a vista do oceano é um colírio. A simples possibilidade de chegar à metade do treino, no final da praia, parar e dar aquele mergulho, mesmo que nem sempre acabe se fazendo isso, já é uma recompensa por si só. Chegar e encontrar a família, ter aquela água ou suco geladinho (pode ser até de cevada!) esperando por você, é sensacional. Vai chegar um dia, e muito em breve, em que vou ter a companhia do meu filho no percurso. Aí, então...

Correr com ele é tão bom que virou capa de livro

Foram só 4,1 km, percorridos em pouco menos de 23 minutos. Treino bem curtinho, mas que já deu a sensação de missão cumprida para o sábado. Deixando o graúdo mesmo para o dia seguinte.

Domingo
Ainda bem que tive uma hora a mais para descansar, nesse encerramento do horário de verão. Mas o relógio endoidou e acabou me acordando às cinco da matina. Resmunguei, voltei para a cama e cochilei um pouco mais até as seis. Sou corredor, não galo...

Tem uns que eu conheço que acordam o despertador...
Estava numa dúvida atroz sobre para qual lado ir. O plano inicial era deixar o carro (e a família) na praia da Lagoinha e seguir correndo de lá até o centro de Ubatuba, vinte e quatro quilômetros e uns quebradinhos depois, retornando ao ponto de partida de ônibus. Para isso, no entanto, teria de sair bem mais tarde. Até a turma ficar pronta, o sol já estaria alto no céu. E a previsão do tempo era assustadora (para o meu gosto pessoal): 34ºC.

Minha kryptonita
Acabei, então, optando pelo caminho inverso. Bem mais manjado em passagens motorizadas, mas, detalhe, onde eu nunca havia corrido antes. Às 6:45 eu deixava uma deserta Tabatinga, após breve caminhada de aquecimento da casa até a pontezinha de madeira, limite de município entre as duas cidades. E, depois de pouco mais de uma milha da praia até a BR-101, virava à esquerda sentido Caraguatatuba. Pouco preocupado com distância, tempo ou ritmo. Focado apenas em me divertir, curtir o momento, aproveitar a rara oportunidade de fazer um treino tão fora da minha rotina. Se bem que treinar, ao menos para mim, nunca é...

Não é só na teoria
A menos de cinco quilômetros, estava a segunda praia do roteiro. E eu já ia passando batido por ela, quando subitamente pensei: por que raios correr de forma contínua, como se fosse só mais um treino banal? Que tal fazer um "de praia em praia"? Dei meia-volta e fui fazer uma breve escala na Mococa e suas areias escuras, monazíticas. Foram uns dois ou três minutinhos só. Tomei um gole d'água da garrafinha, respirei fundo, tirei uma fotografia mental da (bela) paisagem. Mas já foi revigorante. Deu graça e charme ao treino. Quando voltei à estrada, já via muito mais sentido naquilo tudo.

Estação Mococa
Mais três quilômetros e uma nova parada, agora para curtir o visual da Cocanha, praia seguinte da orla de Caraguá, bem mais próxima das ilhotas que se avistam ao longe da Tabatinga. Ainda vazia, pelo horário matinal, mas já começando a ter algum movimento de banhistas e nos quiosques.

Estação Cocanha
A próxima praia era a maior do caminho. Quase sempre vazia, mais frequentada por pescadores que por turistas, a Massaguaçu, de ondas fortes e faixa de areia estreita, é um cenário de cinema. Por lá, aos dez quilômetros de treino, parei para recarregar o squeeze e usar o (providencial) banheiro do posto de gasolina. Na retomada, encontrei outro corredor, que parou para tirar umas fotos. Fiquei com uma invejinha... Deveria ter levado a câmera também!

Estação Massaguaçu
No final do retão, quando a praia muda de nome para Capricórnio, a estrada dá uma forte guinada para a direita, deixa momentaneamente a costa e passa a subir uma serrinha. Para quem vinha se deliciando até então com o longo trecho, praticamente todo plano; e começando a sofrer com o forte calor, que à aquela altura já passava dos trinta e um graus, nada recomendável. Até perto dos treze quilômetros, eu corri. Quando a subida começou a apertar (parece coisinha à toa, mas sai de zero e chega perto de cem metros acima do nível do mar), apelei para a caminhada. Sem culpa. Melhor ainda para apreciar as belezas do cenário lá do alto.

Daqui do morro dá pra ver tão legal...
Em compensação, morro abaixo, tirei o atraso... Não foi uma (boa) sandice como a descida do Cristo em Poços de Caldas, mas despinguelei pela rampa perto dos 5'20''/km, bem mais ligeiro que no resto do trajeto. Só alegria. Definitivamente, sou um corredor de montanha. De montanha abaixo...

A vontade era de seguir em frente, deixar a estrada, pegar a via lateral à esquerda e seguir até a Martim de Sá, depois a Prainha, o Camaroeiro, a Praia do Centro, o Indaiá, a Pan-Brasil, a das Palmeiras, a do Romance, a das Flecheiras, o Porto Novo. Exageros à parte, pelo menos as quatro ou cinco primeiras eram plenamente acessíveis, nem tão distantes assim. Mas o calor já havia superado o limite do infernal. Subindo rapidamente, o termômetro do Garmin Fenix já indicava aqueles 34ºC da previsão-pesadelo e a sensação térmica era de ainda mais.

Estação Martim de Sá: o "metrô" não chegou até lá. Fica pra próxima vez...
De coração partido e avistando um ônibus que se aproximava do ponto, achei por bem interromper o treino por ali, aos quase 16 km rodados. Pensando na minha saúde, claro; mas também nos que haviam ficado na casa e esperavam ansiosamente pelo meu retorno, para curtirmos juntos o restante do domingo. Deveria, na verdade, ter acordado naquele primeiro bipe do relógio... Provavelmente teria corrido (bem) mais. Mas estava feliz e satisfeito. Não é todo dia que dá pra dizer que minhas pistas de treino foram quatro, quase cinco praias.

Ser pai é... Levar caldo de propósito para garantir a risada do filho!
Que venha mais uma bela semana, cheia de bons treinos, já a partir desta segunda. Mesmo que não sejam tão paradisíacos quanto.

10 comentários:

  1. Ei Fabião, variar o cenário é sensacional e renova o corpo.
    Fora o calor, correr no litoral sempre é muito prazeroso, abraços!

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    1. Também acho! Renova o corpo e a mente...

      Um dos meus sonhos é fazer (no inverno) um revezamento de São Sebastião a Ubatuba (ou vice-versa). Correr, em equipe, toda a costa norte paulista. Um dia ainda sai do papel.

      Abraço e obrigado pela visita e mensagem!

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  2. Fábio,
    Valeu pela força do seu comentário lá no blog.
    Obrigado!
    Siga firme na preparação que coisas boas certamente virão para você.
    Ass.: Guilherme.

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    1. Valeu, grande Guilherme! Parabéns mais uma vez pelo aniversário, comemorado em grande estilo em Ft. Lauderdale.

      Estou na batalha para isso. Muito obrigado pelo seu apoio de sempre.

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  3. Legal meu rapaz.
    Bons treinos e que venham muitas conquistas esse ano.

    Corridas do Luizz

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    1. Valeu, Luiz!

      Bons treinos, ótimas corridas e muitas conquistas para todos nós.

      Abraço e obrigado pela visita e mensagem.

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  4. adorei essa: "sou corredor de montanha, de montanha abaixo!" :)
    sou fã dessas suas frases:)

    muito legal o treino, Fábio!
    faltou só as fotos mesmo... mas viajei legal na sua narrativa!
    e como aqui no Rio tá fazendo 33º agora, eu sei bem do que você está falando quando diz que o sol tava quente:)

    treinar assim, explorando novas paisagens, é tão gostoso! pra mim, fica com um gostinho de viagem!

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    1. Já que em subida, eu sou uma piada, o negócio é rir, né, Elis? ;-)

      Faltaram mesmo as fotos... Quebrei o galho com as imagens das praias, mas, claro, umas "ao vivo" seriam bem melhores. Fica pra próxima vez...

      Dizem que 33ºC no Rio é outono, quase inverno. Mas meu DNA de esquimó não combina mesmo com esses termômetros marcando números começando com 3 (ou 4, pior ainda!). Pra mim, passou de 20ºC, é frente quente...

      Treinar em paisagens diferentes é sempre muito bom, mesmo quando elas não são tão novas assim. Que cada novo treino seja sempre isso: uma VIAGEM!

      Boa semana e bons treinos (e viagens) pra você!

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  5. Grande Fabio estou vendo que os treinos para a ultra segue acelerado ., isto é sinônimo de sucesso , tenho certeza que vc vai mandar bem e vai carregar essa lembrança pelo resto da vida ok.

    Valeu belas fotos

    Romildo

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    1. Valeu, Romildo! Na verdade, talvez a preparação esteja um pouco atrasada... Era pra eu estar rodando distâncias maiores. Mas, sem problema. Acho que ainda há tempo pra eu embalar, voltar a fazer aquilo que era capaz e seguir adiante. Certamente as lembranças serão marcantes para sempre, as da prova e as da preparação também.

      Abração e valeu pela força!

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