quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O conceito de estratégia, em grego στρατηγική...

Sou um cara da área de TI. Muito antes dela ser chamada assim, aliás. No meu tempo, tudo era bem menos pomposo, a gente chamava de "informática" mesmo. Ou do jurássico "processamento de dados". Questões semânticas à parte, tenho o costume de dividir problemas grandes em probleminhas menores; e atacar cada um deles de forma individual. Vira filosofia de vida. Transforma qualquer Godzilla em lagartixas.

Dividir para conquistar

Quando se pensa em uma corrida com 24 horas de duração, parece insanidade. E é mesmo! Mas, e se você fatiar essa corridona em pequenas corridinhas, dentro deste mesmo período de 24 horas, não dá a impressão que fica mais palatável? Eu acho que dá! Foi esse um dos principais motivos que me fez optar por correr, logo em minha estreia nas ultramaratonas, uma prova por tempo e não por distância. Além do desafio em si ser maior (pelo menos que a grande maioria das ultras, exceto doideiras-mór, tipo a BR 135 que rola nesse final de semana no sul mineiro), corridas assim são estratégia pura. Coisa de quem gostava de jogar War quando moleque...

O meu exército já está no tabuleiro
Já li bastante e encontrei muita coisa interessante desde que tomei essa decisão de participar da ultramaratona. Mas absolutamente nada sobre estratégias de prova. Talvez por ser algo muito pessoal ou porque seja entregar o ouro ao bandido (sou tão desencanado que esqueço às vezes que o esporte também é algo competitivo). Talvez porque simplesmente não haja uma única estratégia definida, ela surja naturalmente durante a corrida, de acordo com as condições do atleta e do próprio dia. Ou ainda porque seja algo tão banal que não valha a pena ser discutido. Opa! Aí eu discordo...

A caminho dos três dígitos
Treinar com qualidade é não só preparar corpo e mente para o desafio que se pretende enfrentar, como também tentar simular com antecedência e fidelidade as situações que certamente farão parte dele. Corrida não é ciência exata, digo isso faz tempo. O imponderável sempre ronda, sobretudo nas longas distâncias. Já vi provas perfeitas deixarem de ser por conta de uma cãibra ou mudança súbita de temperatura. Não estou à procura de um script perfeito para ser seguido à risca no último final de semana de junho. Mas de diretrizes. De ideias. Mais ainda, porque já tenho muitas.

Montando o quebra-cabeça
Imagino, a princípio, a estratégia para a ultramaratona de 24 horas como uma espécie de fluxograma simples. Uma repetição contínua de três passos básicos: correr um determinado número de voltas na pista; parar por um intervalo de tempo para descansar, repor energias e, em algumas dessas pausas, também me alimentar; retomar a atividade em seguida em uma transição, sob forma de caminhada (mas também contando metros valiosos para a distância total).


Simplificando o processo
Existem outras variáveis envolvidas? Claro! Em determinado momento, o ciclo terá de ser interrompido para um intervalo maior. Dormir, sinceramente, eu duvido que consiga, mas uma esticada nas pernas provavelmente já será revigoradora o bastante. Acredito que o planejamento não fuja muito disso. A probabilidade dele ser cumprido rigorosamente, na prática, chega perto de zero. Mas o fato é que a missão impossível, vista sob essa perspectiva, parece um pouco menos. Parece ser composta de várias pequenas missões, essas sim, que acredito poder cumprir com êxito.

Se ele pode, por que não eu?
Há, claro, que se colocar números de verdade no lugar das letras. Descobrir quantas serão as tais "n" voltas e qual ritmo empreender nelas, para ter uma ideia melhor de quanto tempo levará cada parte do ciclo. Quantos serão os "x" minutos de intervalo e se ele será suficiente para atender à sua finalidade básica. Que número de voltas "y" caminhando será necessário para o reaquecimento antes do regresso à corrida. Com base nisso tudo, estimar quantas repetições serão possíveis durante a prova. Definir qual será o tamanho do intervalo maior para o soninho. Poder estabelecer, ainda que modestamente, um objetivo, uma distância ideal a ser alcançada. Ter algo com o que sonhar.

Tudo isso é só um esboço por enquanto. Tudo pode e, provavelmente, deve ser mudado. E é isso que eu quero e vou aprender, na prática, durante os treinos; e também em papos com corredores mais experientes, que já conhecem o caminho das pedras. Mal começou, mas já está sendo uma tremenda experiência de vida...

8 comentários:

  1. Muito bom o texto....Acho que é exatamente isto! Com o treinamento, independente para qual tipo de prova vc vá fazer, é nele que conhecemos e compreendemos a "realidade da coisa"!
    Abraços.

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    1. Obrigado, Marcia! O desafio é esse. Se vou conseguir, é outra história, mas vou treinar o máximo e o melhor que puder para isso. E certamente aprender bastante, sobre corrida e sobre mim mesmo.

      Abraços!

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  2. Fábio, nunca corri ultras, mas me lembro de ter lido alguns relatos em que o pessoal comentava sobre a melhor hora pra forçar/segurar o ritmo, de acordo com o clima e hora do dia. Por exemplo: em um dia quente, forçar mais na madrugada e se poupar durante as horas de temperatura mais elevada.
    Parabéns pela coragem de enfrentar este desafio. Secretamente eu também cultivo este sonho de ultras, mas por enquanto me contento em voltar a correr as minhas maratoninhas mesmo hehehehe.
    Abraços.

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    1. Bem lembrado, Everton. Falarei mais especificamente da minha "kryptonita", o calor, em uma postagem à parte. Mas é algo sobre o que já pensei bastante como parte da preparação também. A prova começa às duas horas da tarde de sábado e vai até o mesmo horário no domingo. De repente, trocar parte do repouso noturno por uma atrasada no início pode ser bom negócio.

      Obrigado pela mensagem e pelo apoio. Pretendo seguir fazendo maratonas, mas o ritual de preparação para mais uma, nesse momento, não seria algo motivador para mim. Eu simplesmente precisava encarar esse desafio maior.

      Abraços!

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  3. NamiULTRA (vou patentear essa...rsrsrs),
    com sua dedicação e disposição já prevejo(mesmo sem bola de cristal)sucesso nestes novos caminhos.
    Força, estamos na torcida.
    Abraço.
    Jorge

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    1. Boa, Jorge! Se sobreviver ao experimento, usarei o título com gosto, hehehe...

      A dedicação e disposição vai ter que ser ainda maior, meu amigo. Mas estou disposto a tentar. Vamos ver no que dá.

      Abraço e bons treinos!

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  4. Grande NamiUltra ., gostei dessa valeu Jorge ...
    Mas Fabio o caminho é esse mesmo , tudo na vida tem que ter planejamento , e para uma tarefa ardua como essa que vc vai encarar ., tem que ser pensado no minimos detalhes , e o mais importante respeitar os limites do corpo , e não se esqueça .,vai esta presente nessa prova varias feras do mundo das ultras então meu amigo é aproveitar a oportunidade e aprender com essas feras .,
    Abraços estarei torcendo pelo seu sucesso valeu...

    Bons treinos

    Romildo

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    1. Valeu, Romildo! Bem lembrado. Digo sempre que quem procura muito os limites, uma hora acaba encontrando. Prezo muito minha saúde e, embora talvez isso às vezes até prejudique meu desempenho, vem garantindo minha longevidade no esporte. Dez anos correndo sem se lesionar mais seriamente são uma marca considerável e é assim que eu pretendo seguir.

      Aprender com as feras é sempre bom. Nessa prova em particular, em que o confinamento é maior, não há propriamente um percurso, acredito que vá ser ainda mais próximo e interessante.

      Abração e obrigado pela força de sempre!

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